No Museu do Ipiranga,
Não esperava encontrar uma seção de brinquedos antigos.
Dei de cara com o meu passado várias vezes.
E com o meu pai.
Metalúrgico, como o presidente Lula.
Também perdeu um dedo nas máquinas.
Me trazia brinquedos de metal, feitos por ele.
Quase todos os dias.
Tinha mesa, cadeira, cama, fogão.
Uma casa inteira feita por um homem que tirava seu tempo para o amor.
*
Ao me deparar com isso, desmontei.
Não esperava isso em um museu repaginado para críticas coloniais.
Chorei como deveria ter chorado no dia em que, no leito de morte, ele me disse que não podia ir porque eu ainda precisava dele.
Eu tentei ficar firme.
Ele não.
Primeira e última vez que vi meu pai chorar.
*
Pai, sua morte é insuperável.
Aprendi que há dores que nunca são curadas.
Não importa o tempo.
Sigo aqui. Sempre precisarei de você.
Te amo pai.
Das coisas que carrego, você é uma das lembranças mais belas.
As felicidades não estão só na alegria.
Dentre tanta positividade tóxica e sucessos dopaminérgicos…
Chorar por você é feliz; pois, verdadeiro.
A mim, só importa a verdade.
*
Não tenho mais a casa de metal que você me deu.
A assinatura em um caderno velho também se desfez.
Carrego a dor da sua morte.
Essa nunca morrerá.
Sigo com essa bela e feliz-triste verdade dentro de mim.
Vivi a verdade com você.
*
Obrigada por isso.
Pela sua vida.
Pela minha vida.
Obrigada por essa dor.