Ao limpar aqui minhas anotações em tempos de quarentena, achei um papel antigo sobre uma roda psicanalítica que aconteceu no Al Janiah logo após as eleições de 2018 com algumas falas de quem lá esteve. Lembro que havia gente de todo o tipo e a dor só começava naquele momento.
O principal era não entender o pouco caso que se fazia da homofobia, do racismo, da democracia. Muito choro. Muitas perguntas. Muita angústia. Um momento especial em que as pessoas tentavam se conectar. Não sei se conseguimos. Ainda mais agora….
“Eu ando na rua e fico procurando quem me odeia”
“O que as pessoas desejam? Elas querem te reprimir. Querem também reprimir a elas mesmas. É como um eletrochoque, elas querem te aniquilar.”
“Minha mãe foi torturada na ditadura e agora votou nele. Eu queria perguntar pra ela o que ela fazia, como ela sobreviveu a tudo aquilo, como ela se divertia no sábado à noite, mas eu não pude, perdi a referência.”
“Hoje virei para um colega médico e disse que tinha ocorrido um atentado. Ele simplesmente virou pra mim e disse: ‘tem radicais dos dois lados’. Eu fiquei em choque. Perdemos totalmente a empatia.”
“A gente perdeu o título de brasileiro cordial e essa é uma ferida agora.”
“Sou da Colômbia. É a minha terceira vez como imigrante. Há alguns anos, eu joguei uma mochila nas costas. Eu era jovem. Eu não tenho mais essa força psíquica pra sair do Brasil.”
“O junto tem a dimensão do humano. Eu sinto que eu falhei com o Brasil, eu sinto que eu falhei com os brasileiros”
“Eu me vi roubada da potência de ser gente”
“Meu amigo trans ficou 1h20 com a polícia, que tentava enquadrá-lo de todas as maneiras, mas não encontraram nada.”
“Tinha uma violência muda que o Bolsonaro soube agenciar.”
“Eu não consigo conversar com a fé.”